sábado, abril 07, 2007
The cities of blinding lights
E eu espero poder compartilhar esse meu amor por duas cidades com duas grandes amigas sem ser (muito) tendenciosa - deixar que elas descubram por si mesmas o que esses lugares têm de tão especial, e lembrar que o que é especial pra mim vai ser visto e entendido de forma diferente por elas.
Como bem disse minha querida Angie, um mês numa cidade é pouco para entendê-la (embora um dia seja suficiente para amá-la - ah, minha Edimburgo), e em poucos dias muita coisa deixa de ser vista, sentida, vivida. Mas confio na sensibilidade e no bom-senso das meninas pra separar o joio do trigo.
Viajar é essencialmente, na minha opinião, uma atividade solitária. Não é fácil se jogar no mundo - ainda me lembro da sensação de pânico que me invadiu na sala de embarque do Galeão, quando ouvi a chamada pro vôo que me levaria pra Londres, na primeira vez em que eu realmente andei com meus próprios pés. O medo passou rápido e foi substituído por um rush de adrenalina - que em inglês se chama exhiliration e que eu não consigo traduzir - e, no dia seguinte, eu deixei o mapa no albergue de propósito e virava esquinas sem pensar em destino, na cidade que hoje é um dos meus lugares no mundo.
Cada um tem o seu, é claro. Às vezes, seu lugar no mundo é aquele onde você nasceu e vai passar a vida inteira. Pra outras pessoas, eles são uma busca.
E eu costumava achar que meu lugar no mundo era um só - minha Londres querida - até que percebi que o amor por cidades é como o amor pelas pessoas, e há lugar para várias no coração da gente. Me chamam de louca quando eu digo que chegar em São Paulo via Congonhas e mergulhar na cidade me enche de uma alegria insana, mas eu vejo além do concreto e dos prédios cinzentos. Mas, do mesmo jeito que amamos os defeitos das pessoas, perdoamos os defeitos das cidades.
E viajar é um exercício. Muita gente viaja só pra dizer que foi, só pra trazer sacolas cheias de compras e mostrar um passaporte carimbado. Whatever makes you happy, buddy. Mas a melhor bagagem - all that you can't leave behind - é a que você carrega no coração. Nada de errado em passar horas na fila pra subir ao topo da Torre Eiffel. Mas, ao chegar lá, experimente não descer cinco minutos depois, quando todas as fotos estiverem arquivadas na sua câmera digital - observe Paris de cada ângulo, veja o sol se pondo refletido no Sena, pegue um binóculo e mire para a multidão no Trocadero. Entenda os séculos de História que aquela cidade incrível testemunhou, e perceba o quanto você é pequenininho - embora não deixe de ser importante.
Viajar sozinha me ensinou a depender das pessoas e confiar nelas, sem ingenuidade, mas com o coração aberto. E elas podem te surpreender - como o guia de uma excursão em Londres que mudou o itinerário porque eu queria ver a casa onde Virginia Woolf morou, ou como o funcionário do Museu do Design, também em Londres, que me deixou entrar na McLaren do Ayrton Senna pra tirar uma foto, porque eu disse a ele (já meio que chorando, porque tudo a respeito do Ayrton me desmonta) que era brasileira e aquele cara era o meu herói e eu precisava entrar naquele carro.
E agora, viajar com as meninas - vai ser diferente, mas não menos emocionante. E como ambas têm o mesmo espírito nômade que eu tenho, não vai ser nada difícil...
Pode ser muito seguro e confortável ficar em casa, longe de apagões aéreos e de filas em rodoviárias e banheiros compartilhados... mas não há nada como a hora da partida, quando tudo é uma grande incógnita e o mundo inteiro parece esperar por você.
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Viviane at 7:08:00 PM
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