quinta-feira, novembro 08, 2001
Do blog do Rogério Macedo, "Riscos e Rabiscos", um texto brilhante. Assino embaixo.
Sobre o nacionalismo
De minha parte, antes de qualquer coisa, tenho um compromisso com minha existência. Não tenho compromisso com pessoas somente porque elas nasceram geograficamente perto de mim. Pois é, tenho um compromisso com minha existência e ela contém meus filhos, minha família, meus amigos, meus planos, minha solidão, meus anseios, minhas dúvidas. É tudo assim mesmo, em primeira pessoa. E como não há de ser? Não sou nenhum esquizofrênico. O que mais vale é minha existência e ela se funde e se confunde com as coisas que a ela se incorporaram naturalmente. Não sou obrigado a cultivar uma relação amistosa e sentimentalóide com algo ou alguém que por si só não tem maiores relações comigo além do fato de estar próximo a mim.
Sempre pensei em viver em outro país. Portugal, Holanda... não sei bem. Sei que provavelmente não conseguirei, mas esse fato não muda nada o que sinto (ou não sinto) pelo Brasil. Sei que há forte xenofobia em alguns pontos da Europa. Mas isso sempre houve e, estando em terra alheia, as conseqüências dessa xenofobia é o preço que se tem a pagar e, convenhamos, não é um preço sobrehumano para quem tem em boa conta o tal isolamento, que, acredito, protege o visitante, ao menos em parte, de certas situações desconfortáveis. Resumindo: em terra estranha se é sempre um estranho.
Acho ridículo aquele discurso "o Brasil é o melhor país do mundo". Para quem, cara pálida? Moro no Nordeste, detesto praia, calor. Não gosto de carnaval. O país é governado por gangsters. As pessoas sofrem resignadamente os efeitos diretos e indiretos da onipresença estatal e o brasileiro acostumou-se à tutela do Estado. A elite intelectual ativa é formada por estatólatras, o crime organizado (dizem que na economia globalizada os mais organizados se mantém - e quem mais organizado que o crime organizado?) administra as grandes cidades. A infraestrutura brasileira se desmancha, estradas, energia, sem falar que o saneamento básico é muito básico. A burocracia emperra a vida do cidadão. Os tecnocratas riem atrás de seus jargões sérios. A carga tributária é pesadíssima. O Estado se proclama o melhor gestor do dinheiro do cidadão, pilhando-o através dos impostos e dizendo diretamente que o cidadão não tem capacidade para levar sua vida por conta própria. Imbecis dominam os microfones e recebem o status de iluminados, incluindo-se aí cantores, poetas, "artistas" de TV, professores, pedagogos e religiosos. Respeito quem gosta de viver aqui. Mas eu não gosto.
Não há terremotos por aqui, né? Ah! Então é bom! Não tem terremoto! Então é bom.
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Viviane at 6:01:00 PM
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