segunda-feira, fevereiro 18, 2002
Eu queria ter escrito isso
A TRILHA SONORA DO AMOR - Martha Medeiros
7 de dezembro de 1998
Já viu cena de amor na televisão sem um cha-lá-lá de fundo? Não tem. Desde a primeira versão de Selva de Pedra, quando Regina Duarte se aninhava nos braços de Francisco Cuoco ao som de B.J. Thomas, o amor deixou de ser silencioso e as vendas de trilhas sonoras de novela dispararam, o que acontece até hoje. No cinema é a mesma coisa. O sucesso de Nove Semanas e Meia de Amor não deve-se apenas às belas pernas de Kim Basinger, mas também à bela voz de Joe Cocker, que serviu de pano de fundo para o strip-tease da moça. Quem não lembra? Só os surdos.
Música e amor nasceram um para o outro. Não é à toa que paquera também é chamada de cantada. O cara convidou você para ouvir uns disquinhos no apê dele? Não é original, mas faz sentido. Música relaxa quando você está apaixonado, querendo lembrar de ontem à noite. E excita, se o objeto do amor não estiver apenas na lembrança, mas sentado ao seu lado no sofá. Música põe lenha na fogueira.
Que tipo de música? Há controvérsias. Não consigo imaginar uma cena de amor ao som de pagode, por exemplo. Pagode me inspira a matar, não a amar. Samba também passa longe da minha libido. Chorinho, seresta, música sertaneja, nada que que saia da boca de Leonardo ou de Daniel me servem como Viagra. Wando, aquele que transformou a própria casa em motel e que se acha o rei da cocada preta, me dá ânsia você sabe do quê.
O amor merece outros acordes. Para um romance comportado, maduro, contemplativo, sugiro Miles Davis, Sthephane Grapelli, Billy Holiday. Lembra do Andreas Wollenweider? Nem pensar. Evite ressucitar modismos.
Se o romance for maduro mas não for comportado e muito menos contemplativo, blues. Magic Slim, John Lee Hooker, B.B. King, Eric Clapton, Muddy Waters. Você tem razão, não é romântico, mas eu também não sou, senão estaria ouvindo Celine Dion abraçada aos meus bichinhos de pelúcia. A verdade é que amor, no meu dicionário, combina com guitarra.
Tem que ser elétrico, pulsante, estimulante, adrenalínico. Não pode dar sono. Não pode incentivar beijinho de esquimó. Tem que pegar na veia, mexer com o corpo, fazer vestir uma jaqueta de couro. Eu adoro Djavan, mas a música dele me dá vontade de escrever poemas. Adoro Chico Buarque, mas a música dele me dá vontade de escrever um manifesto. Já Rita Lee, Cazuza, Titãs, Renato Russo, Paula Toller, Rolling Stones, Oasis, Tina Turner e Prince me dão vontade de escrever torpedos. Cada um ama no seu ritmo.
Como essa mulher escreve bem, arre!!! E eu concordo com (quase) tudo o que ela disse...
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Viviane at 6:51:00 PM
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