quarta-feira, março 20, 2002
Amanhã ele faria 42 anos. E amanhã o Alta Fidelidade será dedicado a ele. Mas eu nào resisto, e quero copiar isso aqui hoje.
Do Grid:
O acrobata do cockpit
Se estivesse vivo, Ayrton Senna estaria completando 42 anos neste dia 21 de março de 2002. Talvez já tivesse encerrado a carreira, com quatro, cinco ou seis títulos mundiais e um vasto repertório de recordes da categoria máxima do automobilismo. Para relembrar o aniversáro de um de nossos grandes campeões da Fórmula 1, Lemyr Martins nos presenteia com um texto extraído de seu livro "Uma estrela chamada Senna", lançado no final de 2001, que revela uma das peripécias do piloto na busca da vitória, ainda na Fórmula 3 inglesa. (Marcio Ishikawa)
"Vai ter que ser na reta, antes da chicane e tem que dar certo, se não é o fim da corrida, do campeonato, do sonho de chegar à F1, de tudo."
Esse pensamento passou pela cabeça de Ayrton Senna na primeira volta da última corrida pelo título inglês da Fórmula 3 de 1983, em Thruxton. Ele havia largado na pole position, mas seria obrigado a fazer uma acrobacia dentro do cockpit para retirar um adesivo colado na entrada do radiador - um arranjo sugerido pelo chefe de equipe, Dick Bennetts.
Dias antes, Bennetts propôs ao piloto uma manobra: se tapassem a entrada do radiador de óleo, a temperatura do lubrificante subiria rapidamente e o motor funcionaria a pleno já nas voltas iniciais. Sem a vedação, demoraria até a sétima volta para aquecer, como era o normal. Ayrton topou no ato. Contudo o chefe de equipe alertou para uma dificuldade: no momento em que a temperatura atingisse o nível desejado, o adesivo teria de ser removido imediatamente, se não o motor explodiria.
Ayrton não se assustou e foi para a pista treinar a ginástica. Afinal, aquela era a corrida mais importante da temporada e, até ali, da sua vida. Estava disposto a correr qualquer risco para superar Martin Brundle, seu adversário direto na conquista do título. O inglês levava um ponto de vantagem sobre o brasileiro, mas, como o regulamento o obrigava a desprezar os dois piores resultados, Brundle teria de ganhar a corrida para ser campeão. Portanto, para ambos, era vencer ou vencer.
A primeira parte foi perfeita. Como previram, em duas voltas o óleo subiu à temperatura ideal e o motor rendia ao máximo. Mas o problema previsto não tardou. Na sexta volta, o alarme vermelho da temperatura da água acendeu, exigindo providências imediatas. Era momento de retirar o adesivo que tapava o radiador.
"É agora, tem que ser na reta, antes de chegar à chicane", determinou-se Ayrton.
Bateu no comando para abrir o cinto, ficou solto dentro do carro, esticou-se como nunca na vida e puxou o lacre do radiador. Mas logo veio o pavor ao sentir que não conseguiria completar todo o malabarismo: a curva chegava antes de ele poder recolocar o cinto. Com os ombros batendo de um lado e do outro do cockpit, mas com a mão esquerda segurando firme o volante e a direita o câmbio, fez a chicane mordendo os dois lados da pista mas não rodou.De novo seguro pelo cinto, puxou ar do fundo dos pulmões, sentiu-se nas nuvens e, fortalecido, abriu uma vantagem de 9 segundos para, ao final, chegar à vitória são, salvo e campeão.
Para o mundo não passou de uma vitória de competência de Ayrton Senna, mas para a Bennetts & Cia. aquele triunfo virou lenda.
Lemyr Martins
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Viviane at 4:38:00 PM
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