quinta-feira, março 21, 2002
Gente, olhem o que a Gil me mandou por email... são trechos do livro "Uma estrela chamada Senna", do Lemyr Martins, que ela copiou do blog dela.
Sobre a corrida do primeiro titulo, em Suzuka, 88:
"79ª corrida de Ayrton na Fórmula 1: G.P do Japão: Suzuka, 30 de outubro de 1988
A corrida de Ayrton Senna no GP do Japão, além de tida como a mais brilhante de sua carreira, é considerada uma das mais espetaculares da história da Fórmula 1. Saiu na pole position, mas a largada foi desanimadora. Uma combinação de falha de embreagem do carro e nervosismo do piloto quase deixou Ayrton fora da decisão. Enquanto Alain Prost assumia a ponta, o brasileiro via passarem por seu estático McLaren dois, três, dez, quinze carros. "Vi tudo perdido naquele momento", confessaria depois. "O motor morreu e eu fiz pegar no tranco. Apagou pela segunda vez e voltou, graças a Deus, a girar depois do segundo tranco." Naquele instante Ayrton Senna entrou em desespero. "Seria castigo?". Afinal tudo tinha corrido muito bem até ali. Não teve dificuldade em acertar o carro. A Honda, que seria campeã tanto com a vitória dele ou de Prost, sorteou os motores dos treinos, da classificação
e da corrida, para ficar isenta de qualquer preferência. A pole position não tinha sido difícil e, se fosse necessário, ainda havia alguns décimos para despejar.
Quando o motor funcionou, Ayrton Senna partiu furioso e determinado para a recuperação. Era a primeira chance da vida de lutar para ser campeão do mundo e não estava disposto a perdê-la. Já na primeira volta ultrapassou seis carros, não escolhendo trecho da pista. Retardava as freadas, passava na curva, colava atrás dos adversários e vencia-os na reta. Parecia passar ao carro toda sua fúria competitiva, dotando o McLaren de uma potência infinita e milagrosa.
Naquele 30 de outubro de 1988, Ayrton exorbitou do direito de ser veloz, arrojado e competente. Na 11ª volta já era terceiro. Na 20ª, encostou em Prost. Era a hora de decidir quem seria o campeão do mundo. Oito voltas depois, na 28ª, em plena reta dos boxes, deu o bote e fez a ultrapassagem, para delírio dos 200 mil aficionados presentes no autódromo de Suzuka. Uma proeza que lhe valeu a vitória e a consagração de novo campeão mundial. Uma manobra imortal, digna de uma tela de quem é apaixonado por automobilismo.
Se o mundo aplaudiu a bravura de Ayrton rumo ao título, no cockpit, o piloto vivia eternos instantes de tensão. Mesmo com uma
liderança aparentemente tranqüila, alguma coisa ainda seguia estranha. As informações do boxe lhe davam duas voltas a mais do que realmente lhe faltava para o final da corrida. Um erro incompreensível para McLaren, equipe modelo em organização.
"Eu me senti perdido", relembrou Senna. Na angústia da dúvida sentiu-se atacado pelo medo de ficar sem combustível e só soltou a respiração no instante que corrigiram a posição. Outro grande sofrimento: a sete voltas do final, a chuva começou a cair mais forte em
Suzuka. A pista ficou perigosa para os pneus slick, e Senna, catimbando, fazia sinais para o céu pedindo ao diretor da prova que encerrasse a corrida. "Correr assim é uma loteria", contrariou-se por não ter sido atendido.
Mas, nas duas vezes em que a chuva caiu, Senna levou vantagem sobre um hidrofóbico Alain Prost. Na primeira vez, aproximou-se como um relâmpago do francês. Na segunda, Prost cedeu à pressão de Senna, permitindo que a diferença, que era de 1,7 segundo, subisse para 13,5 segundos na bandeirada.
Prost também não escapou do banho no pódio. Senna não respeitou o pedido do companheiro e partiu para a guerra de champanhe,
atacando o ponto vulnerável do professor. "É que eu miro o primeiro esguicho no olho do baixinho, aí fica fácil completar o banho", revelou.
Nas três horas seguintes ao pódio, o novo campeão do mundo riu e chorou ao sabor das emoções. Cruzou a linha de chegada em transe e teve a visão de Cristo. "Jesus estava exuberante, enorme e divino, com as vestes de sempre", descreveu. Ouviu as
vozes dos pais e irmãos ao telefone, chorando e com um sorriso largo recebeu flores do patriarca da Honda, Soshiro Honda, aos
82 anos.
"Agora não tenho pressa para coisa nenhuma", explodiu, sem saber o que faria em seguida. Saiu do circuito às 19h30 e foi desafiar os seus técnicos de boxe para corridas eletrônicas no fliperama do Hotel Suzuka. Ganhou de todos e retirou-se para o quarto número 2504, onde reviu dezenas de vezes o teipe da corrida. Jantou com Alain Prost e à meia-noite foi dormir. Quando acordou, às 7 horas da segunda-feira, reviu outra vez o teipe do grande prêmio da sua paixão e confirmou que tudo era realidade. Vivera o melhor sonho da vida."
Depois do G.P de Detroit, nos States, em 87, ganho por Senna sem que ele trocasse pneus ou reabastecesse uma vez sequer, o
engenheiro-chefe da Lotus, Gerard Ducarouge, resumiu assim nosso campeão: "Ele é um monstro, um E.T."
Aliás, neste ano aconteceu um treco, no mínimo, inusitado e curioso na Fórmula 1. Foi na Aústria. Durante os treinos, Senna atropelou um rato e Stefan Johansson (da Ferrari), bateu num filhote de veado.
Em 88, Senna estreou na McLaren. Prost tava lá já desde 83, já era bicampeão do mundo. Teoricamente, o brasileiro seria o
segundo piloto da equipe, certo? Pois, leiam só o que o Lemyr conta sobre o que ocorreu no início daquela temporada, logo após o G.P. do México:
"Mal terminou a cerimônia do pódio, Senna fechou-se com Ron Dennis e comunicou ao chefão da McLaren que aquela tinha sido a última vez que aceitaria a tal imposição de jogo de equipe. Jamais se acomodaria numa posição de segundo se pudesse lutar pela vitória, como se submeteu naquela corrida. Naquele instante, estava deflagrada a guerra Senna x Prost na trincheira da McLaren, para a alegria da Fórmula 1 e terror de Ron Dennis."
E vocês lembram que em 88 Senna tava com quase um minuto de vantagem em relação ao segundo colocado, Prost, em Mônaco,
quando se desconcentrou e bateu sozinho na entrada do túnel?
Leiam, então, o que o francês falou ao ver que só tinha ganho a corrida porque ela lhe caíra de bandeja nas mãos:
"Em condições idênticas e com carros iguais, Senna é mais rápido do que eu."
Nesse mesmo ano, o Prost abandonou a corrida de Silverstone, na Inglaterra, com medo (assumido) do temporal que caía durante
o G.P. Depois, explicou-se: "Cada um sabe quanto vale a sua vida."
É vero.
Lembrei agora daquela tiração de onda que a Globo fazia no Esporte Espetacular sobre o duelo Senna x Prost, na qual chamava o francês de Professor Narigudinho. Vocês lembram disso?
E vocês acham que um piloto campeão só trabalha no final de semana da corrida, leia isso que diz o autor sobre Senna nos preparativos para o G.P da Alemanha, 10 dias antes do G.P.:
"Senna foi um operário-padrão naqueles dias. Trabalhou 16 horas para deixar seu carro pronto para qualquer tempo e temperatura. Simulou um GP inteiro. Deu 45 voltas examinando cada metro de pista, todas as reações de seu McLaren no seco e no molhado. Testou consumo, durabilidade, desgaste de pneus, pontos de freada e até seu preparo físico. Depois sorriu enigmático e me disse, como quem já tinha a receita da vitória: 'Agora vou descansar um pouco', suspirou. 'Está tudo decorado, o ensaio foi ótimo.'"
O que aconteceu depois?
Pole position e o lugar mais alto no pódio.
Simples, não?
Certo dia, ele falou: "A insegurança é um caminho curto até a derrota"
É vero.
Mais uma do livro:
"O homem passa a imagem da paixão pelo que faz. Eu sou apaixonado pelo que faço. E esse amor é um sentimento que sempre
gritou alto no meu peito desde criança e continua forte como nunca. Me sinto muito feliz em poder dividi-lo com muitas pessoas."
Senna falou isso aí depois de ganhar, mais uma vez, a corrida em Spa, em 1989. De lá do pódio, ele via uma faixa de um pessoal de Moji das Cruzes dizendo "Senna (bi) campeão no pé e no coração."
Peguei isso no meu blog... as informacoes sao do livro do lemyr tb.
Os comentários são todos da Gil. O que está entre aspas são citações do livro do Lemyr.
Brigada, Gil... essa aqui é pra tu, migona!
Lotus, 1987
posted by
Viviane at 5:30:00 PM
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