sexta-feira, abril 19, 2002
Do Uol:
Charlatans vem buscar a merecida e tardia fama
SÃO PAULO (Reuters) - Apesar de ícones do pop britânico e queridinhos dos ingleses, a banda The Charlatans, uma das principais atrações do festival Abril Pro Rock, não tem toda essa fama no Brasil.
Pela primeira vez em solo brasileiro, os cinco rapazes de Manchester (cidade industrial ao norte da Grã-Bretanha) se apresentam no dia 21 de abril em Recife (PE) e em São Paulo no dia 22. Outras atrações da décima edição do festival originalmente nordestino serão o grupo The Mission e Stephen Malkmus, ex-líder do Pavement.
O The Charlatans pode ser considerado um sobrevivente, já que surgiu ao lado de bandas hoje já extintas e não menos famosas -- mas igualmente desconhecidas no Brasil-- como o Happy Mondays e Stone Roses, lá no final da década de 1980.
"Sobrevivemos porque ainda não terminamos o que começamos. Ainda acreditamos que somos importantes na cena e não paramos de aprender, estamos cada vez melhor", disse o tecladista Tony Rogers, em entrevista exclusiva à Reuters.
Era também época em que as pílulas de ecstasy começavam a fazer efeito e o cenário mais melancólico, criado pelas músicas de grupos como The Smiths e Joy Division, ia sendo deixado para trás.
"As pessoas andavam alegres e tomavam exctasys pelas ruas de Manchester, não havia ninguém sóbrio à vista. Eram tempos loucos, selvagens...", relembra Rogers. "Era um alívio isso tudo, um descanso da vida aborrecida dos anos 80¡ Apesar de termos tido coisas boas, como The Smiths, New Order, Joy Division, acid house..."
INTACTOS PELO TEMPO E DISTÂNCIA
Apesar de ofuscados pelo sucesso mundial da nova onda de bandas britânicas dos últimos anos -- como Oasis, Blur e Travis -- o The Charlatans sempre se manteve intacto, lançando álbuns de vez em quando, todos bem recebidos pela crítica.
O tempo passou, os efeitos das drogas mudaram e a música do quinteto inglês se "reinventou". Para o tecladista, "nós mudamos porque estávamos cansados com a cena inglesa, mas nunca foi algo planejado, nós só achamos outro estilo, procuramos outra direção e a encontramos. Se estamos cansados, vamos mudar, nos reinventar".
O rock and roll britânico do começo dos anos 1990 ganhou o balanço dançante e as batidas eletrônicas. A banda continuou no mesmo esquema do brit pop, com as guitarras limpas, mas ganhou algumas vozes em falsete no último álbum, "Wonderland" (2001).
O vocal do Charlatans, Tim Burgess, mora atualmente em Los Angeles. A mudança, que a princípio poderia prejudicar o andamento da banda, acabou ajudando na veia mais pop do álbum.
"Na verdade, acho que 'Wonderland' tem mais balanço, é mais contemporâneo e por isso acaba sendo mais popular", explicou o tecladista.
Para ele, o fato de Burgess morar a milhas de distância não é um problema: "É bom para gente. Nós nunca vivemos juntos, nem nunca fomos vizinhos. Isso mantém a banda viva, é excitante quando nos reunimos para ver as músicas, para ensaiar", contou Rogers, depois de uma longa risada.
HITS DA TERRA ENCANTADA
Tony Rogers tem uma resposta na ponta da língua quando é perguntado sobre o fato de não serem tão conhecidos fora da Grã-Bretanha. "Basicamente, é por causa da nossa política com as gravadoras", explica.
"Cinco anos atrás estávamos com um selo mais independente e era difícil as pessoas investirem dinheiro para viajarmos e divulgarmos nosso trabalho lá fora."
Mesmo assim, as baladas do Charlatans sempre tocaram nas pistas das casa noturnas mais alternativas do Brasil.
Para a primeira performance do grupo neste domingo, em Recife, o set list deve ficar entre as seis primeiras músicas de "Wonderland", seguidas por hits mais antigos, contou Rogers.
O público que conferir a apresentação dos britânicos não será brindado com material inédito -- "de tão ocupados estamos sem tempo de escrever músicas novas" --, nem com surpresas ou luzes histéricas.
"Não somos um banda de químicas, somos um banda de rock and roll e é assim que nós aparecemos e mostramos o nosso melhor", finalizou Rogers, sedento para chegar em solo tupiniquim e conhecer as "maravilhosas garotas de que tanto ouvi falar".
(Por Fernanda Ezabella)
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Viviane at 7:57:00 PM
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