Alta Fidelidade


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segunda-feira, maio 27, 2002

 
Da Bravo Online:

A subversão dos sentidos

David Lynch fala de Cidade dos Sonhos, mais um de seus desafios às convenções lineares do cinema

Por Ana Maria Bahiana, de Los Angeles

Uma garota loura ganha um concurso de dança. Uma limusine negra desliza pela neblina das colinas de Hollywood. Um jovem diretor é coagido a comparecer a uma reunião onde misteriosos tipos mafiosos manifestam ruidosamente sua predileção por café expresso. Uma jovem atriz desembarca em Los Angeles, a cabeça cheia de sonhos de estrelato. Um monstro se oculta atrás de uma lanchonete no coração de Hollywood. Uma atriz desmemoriada assume o nome e a persona de Rita Hayworth.

Todas essas tramas se entrelaçam, se tocam, fazem e desfazem seus nós em Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive), o novo filme de David Lynch, que chega agora ao Brasil. E nem se falou no caubói vestido de branco e seu rancho hollywoodiano, no teatro que só exibe produções em playback, na vidente que assombra um conjunto de prédios, na caixa com poderes paranormais e no corpo que apodrece sobre a cama de um apartamento vazio.

Para quem temia que Lynch tivesse capitulado às pressões do mainstream com a (enganosa) simplicidade de História Real, Cidade dos Sonhos é um conforto. Lynch prova que continua no comando absoluto do seu projeto cinematográfico, e que isso implica, quase sempre, um desafio para o espectador.

Ironicamente - de um modo bem lynchiano -, é o espectador mais visualmente sofisticado que cai com mais facilidade na esperta armadilha de Cidade dos Sonhos. A história que Lynch aparentemente propõe a ele, na primeira parte de Cidade, é de total candura, digna de uma telenovela: jovem atriz (a fantástica Naomi Watts) chega a Hollywood vinda do interior; repleta de sonhos de estrelato, vê-se confortavelmente instalada no apartamento da tia, uma veterana do terceiro escalão da indústria, e tem sua paz abalada pelo súbito aparecimento de uma bela morena (Laura Harring, ex-miss Estados Unidos) com um ferimento na testa, aparentemente sobrevivente de um acidente automobilístico e totalmente desmemoriada.

Segue-se uma tênue história de mistério, entremeada com sedução e com o que parece ser mais uma narrativa de sucesso instantâneo em Hollywood. É quando o espectador já está preenchendo as aparentes lacunas da história com sua própria imaginação - e com referências de outros filmes - que Lynch começa a brincar com nossa capacidade de seguir uma narrativa, ou, melhor ainda, com a capacidade do cinema de criar, na nossa cabeça, diferentes narrativas.

As aventuras das duas moças - e do jovem diretor (Justin Theroux) com quem ambas vivem tropeçando - na Cidade dos Sonhos tornam-se gradativamente mais estranhas, até uma completa subversão narrativa que Lynch atira, sem avisar, na testa do desavisado espectador. O que estávamos vendo, realmente? E que história estava sendo contada? Por quem? Como o próprio David Lynch diz nesta entrevista - uma conversa entremeada por muitos goles de café preto com açúcar e baforadas de Marlboro, numa sala de reuniões de um hotel em Beverly Hills -, tudo faz sentido. Mas talvez não o mesmo sentido para todo mundo.

BRAVO!: Imagino que muitas pessoas têm vontade de lhe fazer esta pergunta, pelo menos da primeira vez que vêem Cidade dos Sonhos: o que é que acontece no filme?
David Lynch (rindo muito): Ok, está certo. Obrigado pela sinceridade. Bom, existem muitos tipos de filmes. A maioria deles, hoje, não exigem que se pense muito. Isso me chateia muito, mas muito mesmo. Me chateia que se pense que as platéias se desacostumaram a pensar e que só querem tudo mastigadinho, entregue de bandeja. Isso é uma besteira, e das grandes. As pessoas adoram pensar. Somos todos detetives. Adoramos observar, adoramos deduzir. É ótimo prestar atenção. Nós nos divertimos assim. É importante não ter medo de prestar atenção, não ter medo de usar a intuição e pensar/sentir qual o caminho que nos levará a alguma conclusão. Depois de uma experiência como ver este filme, cada pessoa adquire um conhecimento pessoal, intuitivo, que pode levar a uma conclusão própria. Nós sabemos muito mais do que admitimos, ou talvez temos medo de admitir. É maravilhoso ter uma coisa abstrata sobre a qual podemos conversar e tirar nossas próprias conclusões. É uma das coisas que mais gosto no cinema - que ele pode ser essa grande coisa abstrata e linda.

Uma hipótese: a primeira parte é um sonho. O sr. confirma isso?
Eu não confirmo coisa alguma (mais risos). Eu não vim aqui para confirmar coisa alguma. Para quê? Tirar o prazer de todo mundo? Quando eu vejo um filme, ou quando eu leio um livro, não vou procurar o autor para perguntar o que li ou vi. Uma boa obra foi urdida e pensada por longo tempo para ser o que é e ter um certo efeito sobre nossa mente. De todo modo, a maioria dos autores de que eu gosto está morta e eu não posso desenterrá-los para perguntar o que eles queriam dizer.

Mas é uma explicação possível, não?
Claro que é. E bem bacana. Olha, o que eu posso recomendar a todo mundo é: veja de novo; preste atenção; tudo começa no princípio, desde o comecinho mesmo. Sobretudo preste atenção - pelo menos é isso que eu gosto de fazer quando vou ao cinema.

Sonhos são um elemento importante em todos os seus projetos. O sr. presta atenção em seus próprios sonhos? Acha inspiração neles?
Não. Eu quase nunca me lembro dos meus sonhos. Mas a idéia do sonho e o modo como os sonhos funcionam me fascinam. O modo como um sonho é uma história, com a estrutura de uma história. Eu retenho mais a sensação dos sonhos. O ideal para mim é combinar a superfície de uma história simples com a sensação de um sonho, com as abstrações possíveis num sonho.

O fato de Cidade dos Sonhos ter começado como uma série de TV teve algum impacto sobre seu formato final? Que alterações foram feitas?
Isso ia ser uma série para a (rede) ABC, e seria um piloto com um final aberto, inconclusivo. Num piloto você tem a oportunidade de explorar várias linhas narrativas diferentes, e estávamos trabalhando nisso na época de História Real. Muitas coisas estranhas aconteceram na época em que terminamos o piloto. Quando finalmente estava numa forma que, acreditamos, dava para mostrar à ABC... Bem, não foi um sucesso. Eles odiaram. Odiaram completamente (ri às gargalhadas). E parecia que isso seria o fim de tudo. Mas então, e eu adoro quando essas coisas inesperadas acontecem, surgiu a oportunidade de transformar o projeto num filme. Um filme tem outras necessidades. Eu precisava de novas idéias. Idéias muito interessantes. E eu não tinha nenhuma.

Qual foi a solução?
Sentei na minha cadeira favorita, uma noite, e as idéias simplesmente apareceram. Naturalmente. Sem esforço algum. Mas elas representaram toda uma nova estrutura, e muitas cenas adicionais, mais trabalho. Então você vê, este projeto queria assumir estas características, queria ser deste jeito, mas teve que chegar até aqui pelo caminho mais comprido.

E, no entanto, o sr. é um diretor que gosta de televisão e teve uma ótima experiência com a série Twin Peaks. O que mudou entre uma e outra experiência?
Realmente não sei. Não com detalhes. Mas suspeito que é um pouco do processo que está ocorrendo no cinema, também. No início, os fundadores dos estúdios se guiavam por instinto. Não havia regras. Não havia pesquisas. Não havia necessidade para nada disso. Tudo isso acabou no cinema e, com muito mais intensidade, na TV. Agora tudo é medido e pesquisado. E uma dessas pesquisas, ao que parece, determinou que as pessoas não assistem mais a seriados porque não têm mais paciência de seguir uma história que se desenvolve ao longo de vários episódios. E é isso, exatamente, o que me interessa. Adoro uma história que evolui ao longo de vários episódios. É apenas isso que me leva a fazer TV. Porque todo o resto é só sofrimento e chateação.

Como o sr. escolheu seu elenco? O filme não tem nenhum rosto conhecido, e todos são excelentes.
Há esta enorme bolsa de talentos que é Los Angeles. Essa é uma das melhores coisas desta cidade: você pode jogar uma pedra em qualquer direção e ela vai cair num mar de talento disponível.

Como é seu processo de escolha de elenco?
Não muda muito. Acredito que, se existe a pessoa certa para um papel, essa pessoa vai aparecer. Em geral, começo com fotografias. Vou olhando fotos dos atores dentro dos parâmetros dos personagens e fazendo uma seleção. Na etapa seguinte, eu me encontro pessoalmente com os selecionados. Não é propriamente um teste, é uma conversa mesmo. Nessa conversa, começo a envolvê-los em algumas cenas e ver a reação deles. Na verdade, você tem muito mais do que simplesmente as reações deles ao texto. Você tem todo um universo de sentimentos e emoções. Não é difícil, nesse contexto, ver quem é a pessoa certa para um papel.

O título original de seu filme é Mulholland Drive, uma rua de Los Angeles. O que esse local tem de tão especial para o sr.?
Para mim, o nome dessa rua, a simples existência dela, eu saber que essa rua está lá, me dá uma sensação de profundo mistério. Em alguns momentos, Mulholland Drive parece inteiramente pacífica e linda. Em outros, completamente misteriosa, e com um elemento muito claro de medo. Talvez isso venha da localização de Mulholland Drive, do fato de que de um lado você pode ver todo o vale (de São Fernando) e de outro, Hollywood. Essa foi uma das primeiras idéias que me vieram, foi a base de tudo.

Há também uma noção muito clara de lugar. Esta é uma história que só poderia se passar em Los Angeles?
Definitivamente. A cidade é uma parte fundamental de tudo. Não é toda a verdade sobre Los Angeles, nem toda a verdade sobre Hollywood e a indústria. É apenas uma história, com estes personagens. Mas tem de ser contada em Los Angeles, e por isso foi filmada inteiramente aqui.

Qual sua relação com a música? Ela também é uma fonte de inspiração, de idéias?
Eu adoro música. E agradeço ao Angelo Badalamenti (compositor e arranjador de trilhas sonoras, inclusive a de Cidade dos Sonhos) por me trazer para dentro do mundo da música. Meu primeiro interesse foi não exatamente pela música, mas por efeitos sonoros. Foi a partir da minha colaboração com Angelo que comecei a compreender e apreciar melhor o mundo da música - e percebi que muitas das leis da música são idênticas às leis do cinema, em termos de ritmo, em termos de exposição de temas, de atmosfera. É muito comum que uma peça musical seja a base para toda uma arquitetura cinematográfica, para mim. Eu lembro, por exemplo, que durante as filmagens de O Homem Elefante, um domingo à tarde, eu não estava trabalhando, estava em casa e ouvi um adágio para cordas no rádio. De repente todo o final do filme me veio à cabeça (era o Adágio para Cordas, de Samuel Barber, que, de fato, foi usado na trilha do filme). Quanto mais trabalho, mais eu vejo que há uma magia real na música e no modo como ela se relaciona com as imagens.

Em Cidade dos Sonhos há uma canção muito importante, numa cena crucial - a versão em espanhol de Crying, de Roy Orbison. Como o sr. chegou até ela?
Era uma canção que eu ia usar em Veludo Azul. Eu a ouvi pela primeira vez num táxi em Nova York quando fui me encontrar com Kyle MacLachlan (protagonista de Veludo Azul), e nós estávamos atravessando o Central Park. Fiquei louco com a música e, quando cheguei a Carolina do Norte, onde íamos filmar, comprei uma coletânea de grandes sucessos de Roy Orbison. Ouvi In Dreams, fiquei ainda mais apaixonado por ela e me esqueci de Crying. Muitos e muitos anos depois, eu estou em casa e meu agente me liga dizendo que queria que eu conhecesse uma pessoa, uma cantora que tinha uma voz incrível. Eu disse "claro", e ele disse "estou indo agora para sua casa". Tenho um pequeno estúdio de gravação em casa e, dito e feito, naquela manhã mesmo me apareceu essa moça, Rebekah Del Rio. Ela mal tinha chegado, nem café eu tinha oferecido a ela nem nada, e já estava no estúdio - e aí ela começou a cantar a versão mais incrível de Crying que eu já tinha ouvido. Uma versão em espanhol, que eu não conhecia. É essa gravação, exatamente - a gravação que fizemos quatro minutos depois de Rebekah chegar lá em casa - que está no filme. Ela tem a voz de um anjo. Um talento inacreditável.

O sr., sendo artista e intelectual...
Não sou um intelectual! Artista, pode ser.

Refaço a pergunta: como artista, que impacto os ataques do dia 11 de setembro tiveram em seu processo de criação?
Costumo dizer que, naquele dia, todos nós de repente descobrimos que estamos com câncer. Talvez muitos de nós, na chamada comunidade criativa, estivéssemos com a cabeça enfiada na areia. Depois daquela manhã, isso ficou impossível. Descobrimos que existem coisas terríveis no mundo - e o que nós vamos fazer a respeito? Ainda não tenho a resposta a não ser, constantemente, desejar o melhor possível para o mundo todo. É claro que eu quero justiça, mas acima de tudo quero paz no mundo, e acho que devemos olhar com o maior cuidado para o que andamos fazendo, e tentar realmente compreender a raiz de todos esses problemas.