terça-feira, junho 18, 2002
Texto da Lady Macbeth que tem muito a ver com certas coisas que aconteceram comigo, e com a minha conversa com a bestest friend ontem à noite...
Sobre o cão
Esse post vai ser meio sem sentido para algumas pessoas. Para outras (as que me conhecem bem), vai ser bem realista. E para uma pessoa em especial talvez sirva como ponto de partida para algo novo, assustador e muito, muito bom.
Desci do ônibus e vi um cachorro. Uma cadela, na verdade. Uma mistura de Benji com um gremlin. Era um animalzinho feio, feio, feio, mas com olhos tão doces que me comoveram de forma absurda. Me aproximei daquela coisinha, estendi a mão e a cachorrinha correu, assustada. Tentei novamente e ela venceu aquele medo todo, provavelmente adquirido às custas de pontapés e outras crueldades, apenas para receber um afago na cabeça.
Não havia comida e ela tinha fome. Sabe-se lá há quantos dias não comia nada e só esperava pela caridade de alguém, por um pedaço de pão, por um pratinho de sobras de comida. Quando percebeu minhas mãos vazias, se afastou e foi procurar outra pessoa que pudesse alimentá-la. Não encontrou e voltou para mim, com aqueles olhos imensos a me torturar. Vim embora sofrendo por ela, pela descrença dela nos humanos, pela fome dela, pela solidão.
E me senti um pouco como ela quando pensei no quanto nos machucamos e no quanto temos medo de confiar novamente em pessoas, porque as pessoas machucam, porque as pessoas podem ser cruéis, porque a fome não é só de comida. Às vezes um carinho basta.
É preciso aprender a vencer esse medo, a correr riscos e a viver cada uma das situações, porque mesmo que demore, sempre vai aparecer a mão para nos afagar e alimentar. Bloquear a vida por receio de ser mais uma vez machucado não traz nenhum tipo de consolo. Vale a pena, sempre vale a pena tentar de novo.
Eu estou deliberadamente deixando de pensar em fazer algumas coisas por medo de sofrer as consequências (e não estou me referindo ao assunto mais óbvio, ou seja, men). Tipo, ando adiando minha viagem a Londres por puro pânico de voltar pro Brasil depois de um ou dois meses lá e cair em depressão de novo. Mas preciso mudar isso. Criar coragem, entrar num avião e aproveitar algumas semanas de felicidade pura, porque elas acabam valendo a pena os meses de tristeza que vêm depois.
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Viviane at 8:30:00 AM
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