domingo, janeiro 26, 2003
O fim dos fumódromos
Em 2005 a propaganda de cigarros na F1 vai virar fumaça. E isso pode ser uma boa notícia
Por Lemyr Martins, jornalista, escritor e colaborador de QUATRO RODAS
Richard Sucre, ex-vice presidente de marketing da Philip Morris, explicava que sua organização investe forte no automobilismo porque considera os pilotos caubóis da era moderna e, como tal, é fácil a associação da Fórmula 1 com a terra de Marlboro.
Também a imagem milionária e o espírito de aventura do circo levaram outras multinacionais de tabaco a anunciarem fartamente na F-1 e garantirem às suas escuderias os títulos mundiais nos últimos 30 anos.
Agora, pressionada pelas leis antitabagistas de vários países, a Federação Internacional de Automobilismo, FIA, capitulou e comunicou à Organização Mundial de Saúde que 2005 será a última temporada em que os carros anunciarão cigarros. Daí o pânico na F1.
Onde a McLaren arranjará um parceiro tão fiel como o Marlboro, com quem teve um casamento que chegou às bodas de prata, iniciado com Emerson Fittipaldi em 1974 e só terminado em 1998, após nove títulos mundiais de pilotos?
Muitas equipes tradicionais venderam seu nome ao patrocinador em troca do conforto financeiro. Marlboro-McLaren, agora West-McLaren, Rothmans-Williams ou Winfield-Williams, Mild-Seven-Benetton e, quem diria, a Scuderia Ferrrari-Marlboro. Isso sem falar na Lucky Strike-BAR, a Benson and Hedges-Jordan, Ligier-
Gitanes, Lotus-Camel e outros menos fumados. Todas seguidoras da idéia pioneira de Colin Chapman, o homem que transformou a F-1 num bom veículo para propaganda de tabaco, ao mudar a identidade de suas Lotus 72 para Gold Leaf, cigarros light, em 1970.
É chegada a hora de os homens de marketing da Associação dos Construtores procurarem ouro em outras minas. Mas isso não chega a ser uma grande novidade, pois os times de F-1 já descobriram os mais diferentes financiadores.
A estóica Minardi, impotente para conquistar uma grande multinacional para vender o nome, chegou a ter 26 pequenos patrocinadores numa única temporada. Foi chamada de “anúncios classificados”, por misturar perfume com lingüiça, macarrão com seguro de vida, jeans com lubrificantes e patins, no rodapé do carro.
Os Williams das vacas magras do início da década de 70 anunciavam cerâmica, brinquedos infantis, lâmpadas e tubos de aço.
Embora o tabaco fosse o filão mais generoso, sempre valeu tudo em matéria de patrocínio na F-1. Em 1977, quando a Aids não ameaçava o amor livre e a camisinha era usada apenas na limitação de filhos, John Surtees lançou em seus carros o surpreendente patrocínio dos preservativos Durex. O austríaco Vern Schuppan e o australiano Larry Perkins competiram duas temporadas com Surtees TS11 anticoncepcional.
Mas a F-1 mudou muito desde a novidade da camisinha. Está inflacionada. As equipes de ponta ultrapassam o orçamento anual dos 250 milhões de dólares, esticando cada vez mais a diferença técnica entre as grandes e as escuderias médias. Talvez o fato de os dólares do fumo serem obrigados a abandonar as pistas traga descobertas financeiras mais equilibradas, tornando a F-1 mais competitiva.
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Viviane at 7:38:00 PM
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