quinta-feira, março 06, 2003
Companheiros de equipe podem ser os piores inimigos na F1
Por Alan Baldwin
LONDRES (Reuters) - Companheiros de equipe na Fórmula 1 raramente são grandes amigos. Às vezes jogam um ao outro contra o muro ou para fora da pista.
O homem que divide o mesmo box, dirige um carro similar e veste um macacão idêntico pode ter muito mais de inimigo do que de amigo e, nesta nova temporada que começa dia 9 de março em Melbourne, há a promessa de muitos conflitos de personalidade.
Quanto maior o ego, maior o problema. Pelo menos foi assim com Ayrton Senna e Alain Prost na McLaren em 1988 e 1989, tempo em que chegavam a se tocar na pista.
O britânico Nigel Mansell e o brasileiro Nelson Piquet batalharam tanto na Williams em 1986 que acabaram permitindo que Prost levasse a melhor no campeonato.
"Na Fórmula 1 você é parte de um estábulo e o piloto número um é o garanhão. É com ele que você é comparado a cada corrida", observou o falecido Didier Pironi depois de seu tempo como companheiro de Gilles Villeneuve na Ferrari, em 1981 e 82.
"O que se faz é elogiar um e esquecer o outro. Você se sente ferido e ressentido, de forma que entre dois pilotos da mesma equipe ironicamente você tem mais, muito mais rivalidade".
A Ferrari mudou muito desde então, no entanto Rubens Barrichello ainda sentiu isso na pele quando chegou à equipe, até que aceitasse a supremacia de Michael Schumacher.
"Tenho muito orgulho de trabalhar com Michael. Ele realmente me ajudou a alavancar minha carreira e a alcançar um nível mais alto", afirmou o brasileiro.
AFLORANDO
Essa harmonia parece ter se espalhado para Renault, Toyota, Sauber e Jaguar este ano, mas ainda há muita antipatia à solta.
Uma nova rivalidade, entre o britânico Jenson Button e o canadense Jacques Villeneuve na BAR, está aflorando vivamente.
O ex-campeão Villeneuve deixou claro no lançamento do novo carro da equipe, em janeiro, que o novo companheiro, de apenas 23 anos, ainda tem de conquistar seu respeito.
Uma fonte de dentro da equipe afirmou, na época, que os dois não estavam se falando. Tudo indica que a situação não evoluiu desde então.
"Estive com Jenson nos últimos dias na Espanha, onde ele estava treinando, e discutimos o assunto", disse a repórteres australianos o chefe da BAR, David Richards.
"Tudo partiu de Jacques. Ele é conhecido por suas opiniões diretas e fala o que pensa".
"Perguntei a Jenson como ele estava indo e se havia algo entre ele e Jacques em que eu deveria interferir, mas ele disse 'não, nada mesmo. Jacques simplesmente não fala comigo"'.
"Acho que o que Jenson quis dizer é que eles não estão conversando no sentido social", acrescentou Richards. "Certamente eles se sentam para falar sobre o carro e seu desenvolvimento".
Há pouca dúvida de que Villeneuve está ansioso para sumir na frente de seu companheiro em Melbourne, assim como o britânico adoraria derrotar o canadense.
Villeneuve tem reputação de ser um companheiro difícil, testando a resistência mental de seu parceiro e destruindo a autoconfiança de Ricardo Zonta na BAR em 2000.
Button tem algo a provar, apesar de boas temporadas com a Williams em 2000 e com a Renault no ano passado. A memória da decepcionante temporada de 2001 ao lado de Giancarlo Fisichella na Renault ainda está presente.
FARPAS À SOLTA
O espanhol Pedro de la Rosa descobriu em Eddie Irvine um companheiro dos infernos na Jaguar, assim como Barrichello havia feito na Jordan, em 1995.
"O pior aspecto da temporada foi trabalhar com Irvine", declarou De la Rosa, pouco antes de ambos perderem o emprego. "É muito difícil trabalhar com uma pessoa como ele".
"Pessoalmente, espero que ele não fique na equipe. Nunca conversamos muito, mas à medida que a temporada avançava, nós nos comunicávamos cada vez menos, e na última corrida praticamente não conseguíamos olhar um ao outro nos olhos".
As farpas, o sarcasmo e o humor negro do irlandês a respeito de seus companheiros vão fazer falta na temporada, porém ainda há muitas duplas restantes.
O colombiano Juan Pablo Montoya e Ralf Schumacher podem ter aprendido a conviver melhor no seu terceiro ano juntos na Williams, mas a rivalidade ainda é evidente.
Apimentada desde o começo, quando o colombiano chegou como campeão da Fórmula Indy dizendo que não via razão para ser amigo do seu companheiro de equipe, a competição atingiu o ápice quando os dois colidiram no Grande Prêmio dos Estados Unidos.
Os dois têm a mesma idade e, como Mansell e Piquet, têm liberdade total para competir entre si. Prepare-se para ver uma expressão fechada no rosto daquele que for mais lento na classificação.
David Coulthard pode esperar mais problemas que nunca com seu companheiro Kimi Raikkonen na McLaren. O jovem finlandês está mais confiante e em busca da primeira vitória.
No final do grid, o retorno do holandês Jos Verstappen na Minardi pode dar ao britânico Justin Wilson um batismo de fogo na Fórmula 1.
Verstappen não é conhecido como uma flor do campo e teve brigas homéricas com seu último companheiro, o brasileiro Enrique Bernoldi, na Arrows.
"Acho que quando comecei a superar Jos na classificação ele ficou um pouco contrariado", cutucou Bernoldi mais tarde.
"Fomos a Hockenheim e ficamos 40 voltas juntos durante a corrida. Lutamos muito e eu terminei na frente dele. Daquele dia em diante, ele começou a dizer à imprensa que eu não era um bom companheiro".
Pois então, que comece a guerra psicológica.
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Viviane at 1:42:00 PM
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