sábado, março 08, 2003
Hein? Coldplay?
Medo da guerra aquece mercado latino de shows
Conflito anunciado faz executivos apostarem na migração de concertos para a América do Sul
JOTABÊ MEDEIROS
A notícia caiu como um míssil de longo alcance. Um dos principais executivos da CIE (Corporácion Interamericana de Entretenimiento, maior empresa de show biz da América Latina), o chileno Boris Rosenblit, afirmou esta semana à agência DPA que a ameaça de guerra no Iraque vai reaquecer o mercado de shows na América do Sul.
Na verdade, já reaqueceu, diz Rosenblit. "Muitos artistas já estão evitando deslocar-se para Europa e Ásia, pelos problemas de segurança que existem nessas regiões." A situação, afirma o executivo, criou a seguinte perspectiva: Chile, Brasil e outros países sul-americanos (a Argentina continua um problema, pelo cenário econômico) devem receber ainda este ano concertos imprevistos, como o do grupo americano Papa Roach (maio) e do inglês Coldplay (agosto ou setembro).
"São opções que estão muito avançadas porque já falamos de exigências, lugares e datas. Além disso, há que se considerar que, em relação a outros tempos, os cachês oferecidos na América do Sul se equipararam notavelmente a outras regiões do mundo." Outros nomes anunciados pela CIE do Chile, ainda em negociação, são R.E.M. (que inicia turnê em meados do ano), Pearl Jam, The Cure e Café Tacuba.
O braço brasileiro da CIE, que administra as casas Credicard Hall e DirecTV Music Hall (São Paulo) e ATL Hall (Rio), confirma as negociações com Coldplay e revela que Santana poderá ser de fato uma atração do projeto Kaiser Music, em novembro - provavelmente no Pacaembu. Mas o grupo é cauteloso em avaliar a situação.
"Acho prematuro falar qualquer coisa", diz José Muniz Neto, diretor artístico da empresa. "Não acho, sinceramente, que a guerra vá favorecer; não favoreceu depois do 11 de setembro; a América do Sul, com as economias no estado em que se encontram, não traz grandes atrativos."
Toy Lima, produtor de eventos como o Chivas Jazz Festival, Natublues e Heineken Concerts, reconhece que existe de fato uma inquietação enorme entre os produtores europeus dos festivais para o próximo verão europeu. "Muitos estão com agendas reduzidas; locais abertos, como a arena do Jazz à Vienne na França e o Parque Floral de Paris, poderão não ser utilizados", afirma.
Na Inglaterra, muitos eventos já estão com o famoso TBC (To Be Confirmed, a confirmar) em seus anúncios. Ao mesmo tempo, existe uma mobilização contrária à guerra, que promoverá eventos pacifistas, mas seriam eventos circunstanciais. Essa "reengenharia" da cena européia poderá efetivamente beneficiar lugares sem riscos, como o Brasil e o Chile.
Lima, no entanto, vê problemas adicionais para que essa previsão de "porto seguro" da América Latina se confirme. "A região é, agora, um mercado quase parado com a desvalorização brutal das moedas, o que certamente a guerra agravará." Lima disse que já existe uma preocupação maior da parte dos empresários de artistas, que exigem maiores seguros para seus clientes. "De mudança efetiva, nos Estados Unidos, notei um único pedido (do artista para o promotor) de mudança de embarque de Nova York para Los Angeles, relacionado a segurança."
Edgard Radesca, do Bourbon Street - casa que promove a série Diners Jazz, que este ano deverá trazer a São Paulo o premiado Michael Brecker - diz que torce para que seja estimulado o interesse dos artistas estrangeiros por shows na América Latina. Mas crê que isso não resolve o problema principal: o preço.
"Tomara que isso aconteça, mas os obstáculos continuarão sendo os mesmos. O artista deverá se dispor a vir por preços de América Latina, preços que seja possível pagar; de graça, ninguém vai vir." Com o dólar "a três e trololó", ele considera, só se os artistas também manifestarem "a vontade de receber menos", além da de vir para o continente.
Os grupos só retomarão a rota da América Latina se as propostas financeiras forem competitivas, avalia José Muniz Neto. Senão, nada feito. "O cara toca num clubezinho na esquina da sua casa e ganha US$ 40 mil, US$ 50 mil; por que ele viria tão longe sem uma vantagem financeira?"
Três nomes internacionais já estão assegurados nos próximos dias na programação da CIE do Brasil: Maná, Joe Satriani e os australianos do Silverchair. "O Silverchair só está vindo porque tem o apoio da gravadora, tem outros interesses além do concerto em si, talvez gravar um especial, mas não deve ser por medo da guerra", afirma Muniz.
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Viviane at 6:41:00 PM
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