quinta-feira, setembro 11, 2003
Vitória, dá licença?
Vânia, Ronaldo, Vitória e Kleber
Eu cheguei em Recife no meio de 1986. Foi uma mudança traumática, que deixou marcas que eu ainda tento apagar, e durante os primeiros dezoito meses eu estava tão triste e tão perdida e tão sem chão que ou não tive forças pra tentar fazer amigos, ou estava tão fechada que não dei acesso a ninguém - com exceção à bestest friend, que era o meu único consolo nos intervalos das aulas no terceiro ano (ela estava no segundo), quando invariavelmente discutíamos as performances do Ayrton nas corridas.
Em 1988 entrei na faculdade e minha vida mudou - um giro de 180 graus pra melhor. A garotinha assustada que não tinha coragem nem de ir a Boa Viagem sozinha dava escapulidas básicas à Conde da Boa Vista pra sessões cinematográficas - e os meus cúmplices eram essas pessoas aí na foto :) Ainda me lembro do primeiro filme que assisti com Kleber e Vitória no Cine São Luiz - Império do Sol, do Spielberg. E que eu chorei tanto que saí de óculos escuros às seis e meia da tarde, e o Kleber riu de mim, e eu tive minha vingança alguns meses depois, quando nós dois fomos ao Veneza assistir Adeus, Meninos, do Malle, e quem chorou foi ele.
Mais do que cinco anos de estudos, a UFPE me deu amigos. Alguns com quem eu não tive chance de ter um maior contato - de Vânia, eu tenho recordações de conversas sobre ballet - ela é fã do Barishnikov e da Maya Plissetskaya (sorry se estou escrevendo errado!), e de uma camiseta azul com a foto dos Smiths que ela vivia usando. Com Ronaldo eu fui assistir Crimes e Pecados, do Woody Allen, numa dessas escapadas - e eu lembro que nós fomos ao apê dele na Barão de Souza Leão pra um lanchinho rápido antes do filme, e que quando eu perguntei a ele se ele tinha gostado, ao sair do cinema, ele me disse "ah, te falo amanhã na faculdade, preciso pensar primeiro". São lembranças fragmentadas, que voltam às vezes sem um motivo "explicável", mas que me fazem ter certeza de que no final das contas, fazendo um balanço, as coisas boas pesaram muito, muito mais do que as ruins.
Da Vi eu nem preciso falar muito. Ela é presença constante na minha vida. Nós viramos "adultas" juntas (eu mais devagarzinho do que ela, por vários motivos), dividimos choros e risadas, e essa amizade de dezesseis anos se torna cada vez mais forte - sem os ciumezinhos bobos da adolescência e com a convicção de que quando duas (ou três, ou quatro) almas se entendem, o resto e fácil. E o fato de dividirmos uma paixão descontrolada pela Inglaterra só faz adicionar a cereja ao chantilly... :)
E Kleber, meu partner in crime quando se tratava de matar aulas e correr pro cinema (saudades do Veneza e do Moderno, né, moço?) pra ver o último Polanski ou Ridley Scott, nossas voltas pra casa no CDU-Boa Viagem, esperando o desgraçado do ônibus na Conde da Boa Vista e traduzindo os nomes dos destinos pro inglês (Little Mustard foi uma pérola dele, Shooting Line uma minha - recifenses provavelmente entenderão), e depois o papo sobre o filme no caminho e o eterno espanto dele com a minha facilidade pra decorar diálogos inteiros.
Amo vocês. Muito, muito mesmo. Mais do que eu expresso, mais do que eu consigo dizer - mas no fundo, sou uma sentimental romântica e boboca. E que bom que esse blog existe e eu posso dizer pra todo mundo o quanto vocês são importantes pra mim.
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Viviane at 7:39:00 PM
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