quarta-feira, maio 12, 2004
Absurdo, absurdo, absurdo.
Governo cancela visto de correspondente do "NYT"
RICARDO MIGNONE
da Folha Online, em Brasília
O Ministério da Justiça decidiu cancelar o visto temporário do correspondente do jornal americano "The New York Times", William Larry Rohter Junior, em retaliação à reportagem publicada no último domingo, na qual afirmava que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abusava de bebidas.
Em nota divulgada nesta noite, o ministro interino, Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto, classificou a reportagem como "leviana" e disse considerar "inconveniente" a presença do repórter no país.
"Em face de reportagem leviana, mentirosa e ofensiva à honra do presidente da República Federativa do Brasil, com grave prejuízo à imagem do país no exterior, publicada na edição de 9 de maio passado, do jornal "The New York Times", o Ministério da Justiça considera, nos termos do artigo 26 da lei n. 6.815, inconveniente a presença, em território nacional, do autor do referido texto. Nessas condições, determinou o cancelamento do visto temporário do senhor William Larry Rohter Junior", diz a nota.
De acordo com a secretária do repórter no Brasil, ele está em viagem pela América do Sul. Larry Rohter deverá ser comunicado pela Polícia Federal. Assim que isso acontecer, ele terá oito dias para deixar o Brasil.
Em entrevista hoje a jornalistas que o acompanharão na viagem à China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já dava sinais de que haveria uma reação severa do governo.
"Não parece que o presidente tenha que responder a uma sandice daquelas. Certamente o autor não me conhece e eu não o conheço. Ele deve estar mais preocupado do que eu. O Ministério da Justiça e que vai se pronunciar. Isso não merece resposta, merece uma ação", disse Lula.
Expulsar jornalista é censura, diz associação de correspondentes
SÉRGIO RIPARDO
da Folha Online
A decisão do governo de cancelar o visto do correspondente do jornal norte-americano "The New York Times", autor de reportagem sobre os hábitos de consumo de bebidas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, representa um "caso de censura e perseguição política", segundo a presidente da ACE (Associação dos Correspondentes Estrangeiros) de São Paulo, Verónica Goyzueta.
O Ministério da Justiça considerou a reportagem, publicada no último domingo, como "leviana, mentirosa e ofensiva à honra" do presidente, com "grave prejuízo à imagem do país no exterior", e classificou de "inconveniente" a presença do jornalista Larry Rohter no país.
"É muito triste e séria essa decisão do governo brasileiro. Haverá uma reação muito negativa entre os correspondentes e no exterior", disse Goyzueta.
Segundo a jornalista, atualmente existem mais de 250 correspondentes estrangeiros trabalhando no país. A maioria (130) está instalada no Rio --outros 110 em São Paulo e 15 em Brasília.
"Vamos discutir o caso e realizar manifestações em São Paulo e no Rio contra essa retaliação", disse a presidente da ACE.
Segundo Goyzueta, a decisão de cancelar o visto do jornalista do "Times" vai prejudicar os esforços do governo Lula de melhorar a comunicação com os correspondentes estrangeiros.
"A nossa situação de trabalho fica complicada. É uma ameaça à liberdade de imprensa, pois se você escrever algo que desagrada o governo corre o risco de ser perseguido e retaliado com a perda do visto", afirmou Goyzueta.
Ela diz lamentar que a decisão seja tomada por um governo que tem, entre seus representantes, políticos que foram perseguidos na época da ditadura militar.
Estou envergonhada, sinceramente. Nunca pensei que fosse ver tamanha arbitrariedade no Brasil - que tanto se ufana de ser uma democracia... o jornalista americano foi infeliz na declaração, mas o governo brasileiro conseguiu fazer a emenda bem pior do que o soneto.
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Viviane at 9:38:00 AM
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