sexta-feira, junho 11, 2004
Clarice, KM, Virginia & Sylvia
A Nina escreveu um post sobre o caso dela com Virginia Woolf. Engraçado como as coisas acontecem: Sylvia Plath é uma descoberta recente pra mim - de dois anos pra cá, mais ou menos. Virginia é paixão antiga. Com a Nina, foi o inverso.
Na verdade, a culpa é de Clarice Lispector, que de tanto falar sobre Katherine Mansfield, me fez ler "Bliss" e depois os diários e cartas de KM. Eu me lembro de um comentário sobre "Bliss" citado nos diários - de que Virginia, contemporânea e rival literária de KM, tomou um porre homérico ao ler o conto e berrava "Eu morro de inveja dessa mulher!". Daí para que eu saísse atrás de "Rumo ao Farol" foi um pulo. Ainda não li Orlando, sacrilégio. A Gal me emprestou o livro em português, mas travei. Me acostumei a ler no original e por melhores que as traduções sejam (Mrs. Dalloway foi traduzida por Mário Quintana, imaginem), fico querendo a melodia da língua inglesa, que para mim não tem comparação. Mas li "The Waves" (meu favorito) e, obviamente, Mrs. Dalloway ("In people’s eyes, in the swing, tramp, and trudge; in the bellow and the uproar; the carriages, motor cars, omnibuses, vans, sandwich men shuffling and swinging; brass bands; barrel organs; in the triumph and the jungle and the strange high singing of some aeroplane overhead was what she loved; life; London; this moment of June"), e enlouqueci. Aí foi minha vez de pensar "Eu morro de inveja dessa mulher", porque, shite, eu também queria saber escrever assim.
I want to give life and death, sanity and insanity; I want to criticize the social system, and to show it at work at its most intense. . . . Am I writing The Hours from deep emotion? Of course the mad part tries me so much, makes my mind squirt so badly that I can hardly face spending the next weeks at it. It's a question though of these
characters. People, like Arnold Bennett say I can't create, or didn't in Jacob’s Room, characters that survive. My answer is--but I leave that to the Nation; its only the old argument that character is dissipated into shreds now; the old post-Dostoievsky argument. I daresay it's true, however, that I haven’t that "reality" gift. I insubstantise, wilfully to some extent, distrusing reality--its cheapness. But to get further. Have I the power of conveying the true reality? Or do I write essays about
myself?
(do diário de Virginia)
Nem vou falar sobre As Horas - chorei horrores no filme, que fui ver sozinha, meu pai estava no hospital e eu apavorada - e Virginia dizendo a Leonard "My life has been stolen from me. I'm living in a town I have no wish to live in... I'm living a life I have no wish to live... How did this happen?", e eu me acabando de culpa porque sentia o mesmo que ela e não me sentia nem no direito de pensar em sair daqui. Depois li o livro do Michael Cunningham, e em típico Vicky-mode saí lendo o que podia dele, compulsivíssima.
E Sylvia (o filme vai passar hoje à noite e amanhã de manhã na sessão de arte do multiplex Boa Vista, aqui em Recife, e como Murphy me ama eu vou estar trabalhando nos dois casos)... bem, ainda não li A Redoma de Vidro, outro sacrilégio. Sylvia me pegou pelo ponto fraco, poesia. Dos poemas pro diário dela foi outro pulo - me fascina a pessoa por trás da artista, a mente por trás do texto; por isso tenho os diários de KM, e ando atrás dos de Virginia. Estou conhecendo Sylvia aos poucos. Já me alertaram pra essa tendência a endeusar pessoas de vida trágica ("cuidado se a vida trágica lhe parece bela", diz Stan Rice em A Rainha dos Condenados), mas o que me realmente me assusta é a mediocridade.
Quanto a mim, meus poemas sempre acabam no lixo, covarde que sou.
posted by
Viviane at 11:36:00 AM
|