quarta-feira, junho 09, 2004
E depois me perguntam porque eu tenho ódio, nojo, desprezo pela criatura... olhem só isso:
Original no livro de Alessandro Zanardi, pero, Zanardi da Castel Maggiore - página 111:
"... Aquela era uma corrida (o Campeonato Europeu de F3 em Le Mans, 1990), que estava perdendo prestígio ao longo dos anos, mas ainda era muito importante, pois seria concedido ao vencedor a superlicença para dirigir na Formula 1. Antigamente isto era uma coisa séria e você, para conseguí-la, deveria cumprir certas qualificações.
Eu tinha ou que vencer um campeonato nacional de F3, ou esta corrida do Europeu, ou terminar no top 6 do campeonato de F3000 Internacional. Vi a corrida em Le Mans como uma grande chance, já que haviam apenas 18 carros no grid. Além disto, a Michelin oferecia a seus pilotos pneus regulares, enquanto a Bridgestone tinha pneus melhores.
Eu e Angelelli, únicos pilotos a corrrem com os pneus japoneses, fomos um pouco melhor que os outros pilotos. Nós ajudamos a desenvolver aqueles pneus, então tínhamos direitos exclusivos de usá-los.
Mas Michael Schumacher, que dirigia para a equipe de Willi Weber, se sentiu ofendido e fez com que ele também usasse os pneus da Bridgestone. Me lembro que os japoneses estavam bem desconfortáveis quando vieram nos contar isso, pois não sabiam como nos justificar a decisão deles.
Schumacher usou os pneus muito bem e conseguiu a pole, com Angelelli em segundo e eu em terceiro.
Schumacher teve uma má largada (já não é de hoje, hehe). Max e eu aproveitamos e pusemos nossos carros lado a lado com ele, mas quando nos aproximamos da primeira chicane ele jogou o carro para a esquerda, depois para a direita, jogando nós dois para fora da pista. Como Angelelli acabou acertando Michael enquanto rodava, os três pararam na brita. Eu saí do carro, crendo que minhas chances de conquistar o campeonato acabavam ali.
Mas Michael, vendo que a corrida não havia sido interrompida, voltou a seu carro, parou-o no meio da pista, saiu novamente, tirou o volante e sumiu. Assim, os fiscais tiveram que parar e recomeçar a corrida.
Fui correndo para os pits pegar o carro reserva. Enquanto isto, começava a chover. Os mecânicos se apressaram em fazer mudanças na asa dianteira para adequá-la à chuva, mas não conseguiram fazer mudanças na asa traseira. Percebemos isso alguns segundos antes da corrida recomeçar, mas era tarde demais.
Dirigi com um set-up que era exatamente o oposto do que eu precisava. Assim, tudo se complicou bastante. Mas mesmo assim consegui chegar em segundo lugar, com Schumi tendo uma vitória fácil.
Mas, depois da corrida, Guido Forti (o mesmo que anos depois fundou sua própria equipe na F1, a Forti Corse), dono de uma equipe italiana, nos disse: "Eu não me importo. Meus pilotos estão fora, mas vou protestar contra este resultado. Ele dirigiu com um motor da Opel, enquanto o primeiro carro tinha motor Volkswagen."
Era contra as regras ter motores de marcas diferentes nos carros titular e reserva. Os fiscais aparentemente não sabiam deste fato, já que o carro de Michael havia passado pelas verificações.
Somente após lerem as letras Opel-Spiess no motor de Michael os fiscais podiam desqualificá-lo... (parte aonde Zanardi conta como ele e seus amigos conseguiram tirar fotos do motor sem Michael saber o verdadeiro motivo pelo qual faziam isso)...
Os fiscais, que haviam encarado nosso protesto com desgosto, estavam meia hora depois de queixos caídos, após uma reunião. Havia desqualificado Michael Schumacher, e eu era Campeão Europeu de F3."
Alessandro Zanardi
posted by
Viviane at 5:07:00 PM
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