sábado, janeiro 15, 2005
Alexander
Depois de todas as críticas que eu li esculhambando o filme, eu esperava uma bomba pesada (tipo Pearl Harbour, uma das coisas mais pavorosas que vi no cinema). Mas nem é tão ruim assim. Há umas inconsistências históricas meio difíceis de engolir, e o filme dá mais ênfase ao relacionamento entre Alexandre e Hefestião do que às conquistas do rei, que é onde o roteiro deveria ter sido baseado. E, como o texto abaixo menciona, a montagem é equivocada principalmente ao colocar um evento crucial como o assassinato de Filipe II lá pro final do filme. Colin Farrell está mal dirigido - ele é geralmente um ator muito competente (considerações estéticas à parte, hehehe), mas não passa de razoável aqui. Jared Leto e Anthony Hopkins estão desperdiçados, o que é um crime, principalmente pra quem viu o trabalho do primeiro em "Réquiem para um Sonho". E Angelina Jolie está ridícula com um sotaque que estava me dando agonia. Eu e a Gal discordamos quanto à música de Vangelis - eu gostei, ela achou grandiloquente - mas concordamos em uma coisa: "Alexandre" teria sido um filme melhor nas mãos de Peter Jackson ou Wolfgang Petersen (ou mesmo Ridley Scott).
Oliver Stone esbanja excessos em "Alexandre"
Por Kirk Honeycutt
HOLLYWOOD (Hollywood Reporter) - No filme "Alexandre", estréia da sexta-feira, o diretor Oliver Stone retrata seu protagonista como se ele fosse um roqueiro dependente da glória e da fama, que vai impelindo a si mesmo e a sua banda numa turnê que ameaça não acabar nunca.
E ele próprio, Stone, faz o mesmo com seu filme, levando-o sem parar rumo à glória cinematográfica -- com mais e mais batalhas, mais e mais melodrama e mais e mais brilho visual --, num percurso que toma três horas longas e cansativas.
"Alexandre" mapeia a carreira militar estarrecedora do rei macedônio (Colin Farrell) que viveu no século 4 a.C., cujas conquistas lhe valeram a alcunha de "Alexandre, o Grande" ou "Alexandre Magno".
O filme perde o norte já em sua parte inicial e a todo momento esbanja excessos. Os atores proferem discursos longos e pesados, as imagens se repetem com frequência, e a música de Vangelis martela os ouvidos do espectador, aparentemente sem descanso.
Em nenhum momento, porém, se pode dizer que "Alexandre" seja enfadonho. A derrota retumbante que Alexandre impõe ao exército persa na batalha de Gaugamela, em meio a nuvens de poeira amarela, é cinema instigante. Babilônia, com seu lendário jardim suspenso, não decepciona quem conhece sua reputação de ser uma das sete maravilhas da antiguidade. Os melodramas da história frequentemente são picantes -- e, com frequência, pelas razões equivocadas.
O público alvo de "Alexandre" é sobretudo o masculino, tanto hetero quanto homossexual. Mas a história é relatada de maneira tão bombástica e exagerada que em muitos momentos provoca risos de escárnio.
E os sotaques absurdos falados por um elenco que não pára de despejar diálogos pouco convincentes provocam o distanciamento ainda maior do espectador.
ALEXANDRE, O DÂNDI?
Quando morreu, antes de completar 33 anos, Alexandre (356-323 a.C.) já tinha percorrido 35 mil quilômetros e formado um império de mais de 5 milhões de quilômetros quadrados, estendendo-se das atuais Grécia e Turquia até o Egito e partes da Índia. Em toda sua vida, ele nunca perdeu uma única batalha.
É evidente que qualquer filme que se proponha a mostrar sua vida, mesmo que apenas arranhe a superfície dela, terá que descrever um jogo de amarelinha temporal, saltando de um momento para outro.
Oliver Stone optou por demorar-se em cenas que revelam a formação do conquistador, seu relacionamento intenso com seu amigo de infância Hephaistion, o exotismo das terras que conquistou e sua crença inabalável de que o caminho que percorreu rumo à glória formava um paralelo com o de seu ídolo, o lendário guerreiro grego Aquiles.
Stone, que escreveu o roteiro juntamente com Christopher Kyle e Laeta Kalogridis, relata a história através dos olhos envelhecidos de Ptolomeu (Anthony Hopkins, grisalho e de túnica branca), que foi confidente de Alexandre e está ditando suas memórias na Biblioteca de Alexandria.
As cenas iniciais estabelecem o ambiente em que Alexandre se criou: em sua cama, cercada de serpentes, sua mãe Olympia (Angelina Jolie) ensina seu filho a segurar uma cobra sem hesitar.
A cena de carinho maternal é interrompida por uma tentativa de estupro de Olympia cometida pelo bêbado e selvagem pai de Alexandre, o rei Felipe da Macedônia (Val Kilmer, descabelado e gordo), um monarca vulgar que, entretanto, teve um filho cortês e elegante.
Em seguida, cenas de luta livre entre garotos apresentam ao espectador o amigo que foi a alma gêmea de Alexandre, Hephaistion. Uma aula de Aristóteles (Christopher Plummer) permite que o sábio trace a rota que Alexandre seguirá para conquistar seu império e lhe ensine as virtudes do amor.
Seu pai lhe transmite pequenas pérolas de sua "sabedoria": "as mulheres são mais perigosas do que os homens", "um rei deve saber que precisa ferir aqueles a quem ama". Sua mãe lhe enche a cabeça de fofocas maldosas sobre seu pai. Alexandre e Hephaistion se agarram, numa amizade amorosa.
Em seguida, vemos os dois já homens feitos, encarnados por Colin Farrell e Jared Leto. Oliver Stone faz Farrell ter longas madeixas loiras, em estilo Brad Pitt, com figurinos e maquiagem que a tal ponto afeminam o guerreiro que, mais do que o Grande, ele parece Alexandre, o Dândi.
NOITE DE NÚPCIAS MAIS BIZARRA DO CINEMA
O filme avança célere, galopando de um discurso grandioso para uma cena de batalha, e de volta para outro discurso. Só existe um lapso cronológico muito estranho. Oliver Stone opta por passar ao largo da morte de Felipe e da tomada de sua coroa por Alexandre, para que possa fazer um flashback para essa cena mais tarde no filme, quando, evidentemente, ele imagina que ela terá impacto maior. Mas o estratagema não funciona.
Tentando compreender os anos que Alexandre passou na Ásia, quando deveria estar consolidando e governando seu império, Stone postula que o conquistador estava, na realidade, fugindo de sua mãe e buscando outros jovens "amigos".
Enquanto isso, sua mãe, drapejada de serpentes, dita cartas ao filho famoso desde seus aposentos no palácio, oferecendo a ele conselhos aos quais ele não dá ouvidos.
O grande amor da vida de Alexandre é Hephaistion, mas nem por isso ele deixa de passar tempo com dançarinos vestidos de mulheres. Seu casamento surpreendente com Roxane (a deslumbrante Rosario Dawson), uma dançarina encontrada na fronteira de seu império (na região do atual Afeganistão), é visto como artifício que visa unificar o império, sem falar em gerar um herdeiro para Alexandre.
A união dá lugar a uma das noites nupciais mais bizarras da história do cinema, que inclui uma tentativa de estupro por parte de Alexandre, agressões mútuas e uma faca colocada contra a garganta do guerreiro.
As cenas dessa natureza se sucedem, mas não chegam a lançar luz nova sobre a história. Do mesmo modo, as cenas de batalhas são espetaculares, mas o espectador se perde em meio à carnificina toda.
Em termos técnicos, "Alexandre" tem batalhas instigantes, ambientes visualmente deslumbrantes e figurinos brilhantes. Mas, em lugar de formarem um todo coerente, os elementos parecem brigar entre si pela atenção do espectador. Falta ao filme uma visão coesa de quem Alexandre, o Grande, realmente foi como homem e figura histórica.
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Viviane at 11:06:00 AM
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