quarta-feira, dezembro 14, 2005
Minha irmã estaria fazendo 35 anos hoje.
Ela não está conosco por causa da estupidez de uma médica que cometeu um erro de diagnóstico grosseiro e fez com que minha mãe, que tem um metro e 53 e pesa 47 quilos, tentasse um parto normal de uma criança com quase quatro quilos e 59 centímetros. Um erro de diagnóstico grosseiro que causou uma dor que eu não tenho a menor idéia da dimensão. O pouco que eu ouvi, e mesmo assim muito recentemente, só confirmou minhas suspeitas de há tempos. Certas dores diminuem com o silêncio, e com o tempo, mas no fundo elas nunca vão embora.
Minha mãe foi aconselhada a não tentar outra gravidez antes de dois anos. Eu nasci um ano e três meses depois. Eu não sei se teria a coragem dela -- provavelmente não.
Meu pai e meu avô decidiram não levar o caso à Justiça para poupar minha mãe de um sofrimento maior, ou pelo menos é o que eu imagino. Se estivesse nas minhas mãos, essa mulher deveria ter o diploma rasgado, mas enfim, eu acredito em uma justiça maior.
O que fica em todo 14 de dezembro é aquela sensação do que poderia ter sido e nunca foi. Como ela seria hoje, será que seríamos amigas, ou se não teríamos absolutamente nada em comum. Se ela estaria casada, se teria filhos, se daria aos meus pais os netos que eu não penso em dar. Se o meu irmão seria duplamente mimado, com duas ao invés de uma pra dar tudo o que ele quer.
Minha irmã viveu sete dias, e em 35 anos nunca deixou o coração da gente - porque meus pais fizeram questão de mantê-la viva.
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Viviane at 12:28:00 PM
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