quarta-feira, agosto 16, 2006
Memórias de viagem - parte 1
Eu vou ter que ir contando aos poucos, porque como expliquei antes, internet na Europa custava uma fortuna que eu não tinha. E que agora, com as contas do cartão de crédito internacional pagas, é que eu não tenho mesmo. Mas digresso.
No primeiro dia em Paris, dei de cara com a Shakespeare & Co., a livraria inspirada por Sylvia Beach e que era frequentada por Henry Miller e Allen Ginsberg, pra dizer o mínimo. Fica numa ruazinha escondida, praticamente impossível de encontrar pelo mapa (tive que pedir ajuda, ou não chegaria lá nunca), bem pertinho de Notre-Dame e do Boulevard Saint-Michel. O lugar é apertado, atravancado de livros de todos os tipos e tamanhos, novos e usados, e é o paraíso na Terra. Você sobe uma escada incrivelmente assustadora (especialmente pra alguém como eu, que costuma despencar delas), e dá de cara com um painel com bilhetes, cartões postais e cartas de gente do mundo inteiro agradecendo pelo simples fato daquele lugar existir. Meus olhos se encheram de lágrimas na Sala de Leitura; ao cruzar a porta, há uma inscrição na parede onde se lê "seja amável com estranhos - eles podem ser anjos disfarçados". Me comoveu profundamente o fato de ainda existir algo parecido em um mundo bizarro como o nosso. Pra quem assistiu "Before Sunset", a livraria é aquela mesma onde o personagem do Ethan Hawke está dando uma palestra no início do filme. Vocês podem fazer uma tour virtual aqui.
É óbvio que eu adoro a Livraria Cultura (tanto a do Conjunto Nacional em Sampa quanto a do Paço Alfândega aqui em Recife), a Borders de Londres, a Chapters de Toronto, a Barnes & Noble de Nova York. São meus refúgios, especialmente em dias chuvosos, quando a melhor coisa do mundo é se enroscar em um daqueles sofás fofinhos com um café numa mão e um livro na outra. Mas a atmosfera daquela livrariazinha pequenina perdida no meio de Paris é inigualável. É como eu sempre tinha imaginado a Marks & Co., que Helene Hanff tanto amava, em Charing Cross Road (uma das poucas decepções da minha primeira viagem a Londres foi constatar que no local onde a livraria existiu, o número 84, funcionava uma Pizza Hut - outra foi descobrir que o Covent Garden de My Fair Lady foi recriado em estúdio). Só uma pessoa desesperadamente apaixonada pela literatura pode entender como eu me senti ali dentro - e mesmo assim, a experiência é única pra cada um.
E é reconfortante perceber que, onde quer que você esteja, em qualquer lugar no mundo, há sempre um lugar que é a sua casa. Your home away from home.
A Parte 2 tem o Pére-Lachaise e a minha aventura procurando túmulos de famosos... coming soon.
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Viviane at 4:00:00 PM
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